domingo, 29 de maio de 2011

CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR

Heitor Augusto/Uol

O Oscar em 2003 para Tiros em Columbine fez com que Michael Moore se tornasse uma figura popular no meio cinematográfico. Depois, sua montagem agressiva foi contestada e, com a passagem dos anos, os filmes e o documentarista se confundiram. Antes mesmo de assistir a qualquer coisa sua, muitas pessoas já soltavam um “urgh!” só de ouvir o nome do diretor.

Vencida a resistência inicial e tendo muito claro em mente que Moore nunca se esquivou de assumir que, no processo de edição, sempre deixa muita coisa de fora para não atrapalhar sua tese, Capitalismo: Uma História de Amor reforça o seu talento como contador de histórias. Seu filme é envolvente, contundente e militante.

Concordo com a avaliação de Amir Labaki, diretor do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários: a saída de Bush da Casa Branca após oito anos fez bem a Moore. Seu cinema está muito mais engraçado e a ironia não surge apenas na narração. A música e o texto dão um ritmo absurdamente leve a um filme que fala “apenas” do capitalismo.

Eis o que o documentário se propõe a discutir: quais foram as razões para o colapso do sistema financeiro em 2008? Como seus filmes anteriores, Capitalismo: Uma História de Amor tem mais respostas do que perguntas. Aliás, respostas muito pertinente.

Uma delas, o arrocho da política fiscal, aplicado a toque de caixa a partir da administração Reagan (1981-89). Falta de regulação do Estado, um terreno fértil para que as operações do sistema financeiro se tornassem ainda mais complexas e carta branca para as grandes corporações, especialmente os bancos, aumentarem a fortuna.

O filme também faz um feliz paralelo com o reforço da classe média nos anos 40 e 50 e como as pequenas conquistas foram destruídas pouco a pouco. Moore também não esquece de dar uma cutucada no engodo vendido pela propaganda de empresas de crédito e refinanciamento de imóveis.

Mas se engana quem acha Capitalismo: Uma História de Amor um mero apanhado histórico, um filme didático ou material de apoio para sala de aula. Além do tom punk “faça você mesmo”, regado a música, ativismo e ironia, há duas características marcantes na produção.

A primeira é a cara de pau do cineasta em colocar na prática algo que tinha ficado no discurso. Se Obama foi à televisão para dizer “queremos o nosso dinheiro de volta”, o que Moore fez? Bateu na porta dos bancos para levá-lo, ora pois! Essa ousadia é um ótimo ingrediente para um filme tão crítico à leniência com Wall Street. O ridículo funciona da maneira inversa e expõe o absurdo.

O segundo grande mérito do cineasta é entrar tão fundo na cultura americana de maneira simples. Exemplo disso é como ele se debruça para entender como uma população que acredita no “chegar lá” caiu em momentos de descrença e adotou a boa e velha organização coletiva e um bem-vindo protesto.

Podemos sim discutir o que ficou de fora de Capitalismo: Uma História de Amor. Por exemplo: Jimmy Carter, cujo principal legado é elogiado pelo filme, perdeu para Reagan e os republicanos porque foi pressionado pelas instabilidades da política externa; Franklin Roosevelt, o mesmo que sonhava com uma vida de qualidade para todos os norte-americanos, tem episódios de discriminação aos negros e belicismo exagerado.

Por outro lado, o filme de Michael Moore aponta uma outra série de argumentos consistentes para esculachar o capitalismo. Uma vez mais prova seu talento em contar uma história, convencer com seus pontos de vista e chamar para ação.

3 comentários:

Anônimo disse...

e eu concordo com ele
é um sistema falido

Marcus Alencar disse...

Eu sempre achei incrível a idéia de um cineasta americano que critica o sistema de seus país. Isso já ficava evidente desde Tiros em Columbine, um ótimo documentário dele. Fico curioso em ver um trabalho dele pós era Bush, já que esse sempre foi o alvo favorito dele ao meu ver.

Thyallen Oliveira disse...

muito bom o post, bem escrito

http://thyallencep18.blogspot.com/

Análise dos principais acontecimentos da mídia brasileira e mundial!

Direção/Produção
Leandro Andrade

leandrolfandrade@yahoo.com.br
http://twitter.com/LeandroAndrade2