segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gasolina já bate nos R$ 3

Marinella Castro e Leandro Andrade / Estado de Minas

Foto: Beto Magalhães

O preço da gasolina, termômetro da inflação, voltou a assombrar os consumidores brasileiros, que estão pagando valores recordes nas bombas. O litro do combustível está batendo na casa dos R$ 3 em postos de Belo Horizonte e do interior. Em outros estados, como o Rio de Janeiro, Pará e Mato Grosso, a gasolina cruzou com folga a barreira histórica, chegando aos R$ 3,30. A diferença de preços entre grandes corredores da capital mineira chega a 15%, forçando o consumidor a pesquisar. A economia pode chegar a até R$ 20 no tanque de 50 litros. Para quem consome 100 litros por semana, a diferença atinge R$ 160 ao mês, quase 30% do salário mínimo.

Na última pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço máximo pago pelo produto na capital era R$ 2,95 na sexta-feira, o que representa uma alta de R$ 0,16 em 30 dias. No fim de semana, diversos postos repassaram aos preços mais uma alta, elevando em até R$ 0,04, o preço máximo que chegou a R$ 2,999 para o consumidor. “Nos últimos dias o litro da gasolina chegou para os postos R$ 0,18 mais cara. A alta deve ser repassada ao longo desta semana, apesar de ser difícil romper a barreira psicológica dos R$ 3. Assusta muito”, argumenta Paulo Miranda Soares, presidente do Minaspetro (Sindicato que representa o comércio varejista de combustíveis em Minas).

A pressão nos preços deve ser forte nas próximas duas semanas. Segundo o Minaspetro, há inclusive o risco de um apagão do etanol hidratado. No Brasil, 25% da gasolina é composta pelo derivado da cana-de-açúcar. Levantamento da ANP aponta alta de 15% do etanol no último mês e de 3% da gasolina. A pressão vem do desequilíbrio entre a oferta do etanol hidratado e a demanda, que fez o preço do produto acelerar 20% nas bombas desde dezembro do ano passado, puxando um encarecimento médio de 7% da gasolina no mesmo período.

A professora Vitória Benevides tem um carro flex e pagou ontem R$ 2,82 pela gasolina. “Estou assustada com o preço. Normalmente abasteço em outro posto, mas como hoje estou com muita pressa. Optei pela gasolina” Edson Alves, é gerente de um posto Petrobras na BR 356 e concorda com os consumidores: “Em mais ou menos 20 dias, reajustamos o preço três vezes e isso foi inevitável. Os clientes reclamam e o movimento diminui bastante, mas não há o que fazer. Mesmo a gasolina que estava com o preço um pouco mais em conta subiu muito.”

Para conter o ciclo, o país vai importar 1,5 milhão de barris de gasolina. Pouco mais de 200 milhões de litros de etanol importado também chega este mês ao país para conter o descontrole dos preços. Desde 2008 a produção de gasolina permaneceu praticamente estável, mas na outra ponta o consumo acelerou 23%. No caso do etanol, o descompasso é maior: enquanto o consumo cresceu 60% a produção avançou 38%. “Se não houver uma política urgente o consumidor vai continuar tendo essas surpresas. Agora é a frota flex, antes foi o GNV, e na década de 80 o carro a álcool”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Segundo ele, na crise de 2008, o governo incentivou o consumo, com crédito farto e a indústria automobilístico bateu recordes históricos. “Só que não houve incentivo para a produção de combustíveis”, critica.

ÁLCOOL DEIXA DE SER VANTAJOSO NO PAÍS
O estudante Matheus Andrade tem um carro flex, mas nas bombas não sente no bolso a economia e é forçado a abastecer com gasolina. O álcool não é vantajoso em nenhum estado do país, em todos eles, custa bem mais do que a média de 70% do valor do derivado do petróleo. “Estou abastecendo hoje com gasolina e, quando posso, abasteço em outro posto. Os dois preços estão muito altos.”

O etanol é considerado um produto agrícola e seus estoques não são fiscalizados pela ANP. Segundo o coordenador nacional do Fórum Sulcroenergético, Luiz Custódio Martins, a intervenção da agência reguladora não seria a solução. Ele lembra que o preço da gasolina permanece congelado desde 2005 apesar das altas do barril do petróleo. “Já o etanol tem valor de mercado.” Ele descarta qualquer chance de apagão do combustível. “Vai haver importação de gasolina e etanol. Na produção há duas semanas o preço já começou a cair”, diz. Ele aponta queda de 12,4% nas usinas. Segundo Custódio, o setor vai apresentar propostas de redução da tributação e de estoques reguladores para conter os gargalos que se repetem a cada ano. “Não queremos viver apagando fogo.” A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) anunciou ontem estimativa de crescimento de 2,11% para a safra 2011/2012.

Estado de Minas- 05-04-2011

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